Tem início a Antologia Chocarrice. Na estréia: o Barão de Itararé.
Reforma do Calendário
Nós, os grandes e poderosos, temos um dever primordial na vida, que é de nos bater sempre, em quaisquer circunstancias, pelos fracos e oprimidos.
Fieis a este belo programa igualitário, elaboramos um projeto de reforma do atual calendário, que apontamos com uma das causas da desordem reinante no mundo.
O papa Gregório, responsável pelas últimas alterações da folhinha, com certeza, não tinha noções exatas sobre o problema do tempo e espaço, do contrário não cometeria essa negra injustiça com o pobre e infeliz mês de fevereiro, que, sem nunca ter feito mal a ninguém, aparece sempre numa situação ridícula, de achincalhante inferioridade, com 28 dias apenas, enquanto seus vizinhos, janeiro e março, se apresentam como uns nababos, com 31 dias cada um.
A reforma que temos em mira tornará rigorosamente iguais os meses de janeiro, fevereiro e março, os quais passarão a ter 30 dias, sem humilhações para ninguém. Para isto, vamos expropriar um dia de janeiro, tiramos compulsoriamente outro dia de março e entregaremos solenemente esses dois dias a fevereiro.
Desta maneira, ficará socializado o primeiro trimestre, como uma séria advertência para os meses restantes, que, se não se endireitarem até o ano que vem, nos obrigaram a fazer a intervenção federal nos outros trimestres.
A esta reforma do calendário, baseada no art. 177 da Carta de 10 de novembro de 1937, chamaremos de “tenente-gregoriana”, não em homenagem ao Pontífice, mas ao tenente Gregório, que foi quem, nos últimos tempos, melhor compreendeu o significado do “curto espaço de quinze anos”, na historia do Brasil.
Esta alteração só tem um inconveniente. É o tal ano bissexto. Mas esse problema não é para já. Ele só vai aparecer por volta do ano de 1952, coincidindo com a sucessão presidencial e não convém precipitar os acontecimentos. Nós só votaremos no candidato que se comprometer a oficializar a nossa reforma e, segundo a qual, o dia que sobrar, de 4 em 4 anos, não se conta. A gente pega esse dia para ir tomar banho de mar com as garotas e beber limonada de canudo até doer a barriga. É claro. Perdemos tanto tempo com bobagens durante o ano todo e depois vamos fazer questão de um dia bissexto na folhinha?
Eis aí, em linhas gerais, as bases da nossa reforma. Ela será profunda e total. Mas, para não atrapalhar, iremos por partes. Assim, agora, vamos apresentar o velho calendário apenas com o primeiro trimestre socializado. O resto virá depois.
(Almanhaque para 1949)
O papa Gregório, responsável pelas últimas alterações da folhinha, com certeza, não tinha noções exatas sobre o problema do tempo e espaço, do contrário não cometeria essa negra injustiça com o pobre e infeliz mês de fevereiro, que, sem nunca ter feito mal a ninguém, aparece sempre numa situação ridícula, de achincalhante inferioridade, com 28 dias apenas, enquanto seus vizinhos, janeiro e março, se apresentam como uns nababos, com 31 dias cada um.
A reforma que temos em mira tornará rigorosamente iguais os meses de janeiro, fevereiro e março, os quais passarão a ter 30 dias, sem humilhações para ninguém. Para isto, vamos expropriar um dia de janeiro, tiramos compulsoriamente outro dia de março e entregaremos solenemente esses dois dias a fevereiro.
Desta maneira, ficará socializado o primeiro trimestre, como uma séria advertência para os meses restantes, que, se não se endireitarem até o ano que vem, nos obrigaram a fazer a intervenção federal nos outros trimestres.
A esta reforma do calendário, baseada no art. 177 da Carta de 10 de novembro de 1937, chamaremos de “tenente-gregoriana”, não em homenagem ao Pontífice, mas ao tenente Gregório, que foi quem, nos últimos tempos, melhor compreendeu o significado do “curto espaço de quinze anos”, na historia do Brasil.
Esta alteração só tem um inconveniente. É o tal ano bissexto. Mas esse problema não é para já. Ele só vai aparecer por volta do ano de 1952, coincidindo com a sucessão presidencial e não convém precipitar os acontecimentos. Nós só votaremos no candidato que se comprometer a oficializar a nossa reforma e, segundo a qual, o dia que sobrar, de 4 em 4 anos, não se conta. A gente pega esse dia para ir tomar banho de mar com as garotas e beber limonada de canudo até doer a barriga. É claro. Perdemos tanto tempo com bobagens durante o ano todo e depois vamos fazer questão de um dia bissexto na folhinha?
Eis aí, em linhas gerais, as bases da nossa reforma. Ela será profunda e total. Mas, para não atrapalhar, iremos por partes. Assim, agora, vamos apresentar o velho calendário apenas com o primeiro trimestre socializado. O resto virá depois.
(Almanhaque para 1949)
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